quinta-feira, abril 21, 2011

TIRADENTES – Uma abordagem maçônica


Apresentamos um resumo de vários trabalhos, pesquisas e publicações sobre o tema. Citamos os autores. Não temos o intuito de indicar, provar ou negar o que todos perguntam: Tiradentes era maçom? Mas sim contribuir para o nosso progresso cultural maçônico e humano.
De nossa parte, mantermo-nos sempre de bons costumes e livres pesquisadores da verdade, nos lapidando, seguramente nos fará progredir sem cessar.
Que o G\A\D\U\ a todos ilumine e guarde.
Murilo de Campos e Marcos Canto

MM\MM\

PRIMEIROS INDÍCIOS

No ano de 1787, cansado da vida militar, Tiradentes pediu licença no regimento, e foi para o Rio de Janeiro, onde apresentou ao vice-rei Dom Luiz de Vasconcelos alguns projetos de engenharia e hidráulica, para a canalização e captação dos rios Catete e Maracanã, para abastecimento da cidade e edificação de moinhos; e construção de armazéns para o gado a ser exportado. Seus projetos, porém ficaram aguardando a aprovação das autoridades de Portugal, e nunca foram executados. Enquanto permanecia no Rio de Janeiro, reuniu-se com o estudante José Álvares Maciel, que acabava de chegar da Inglaterra, com o Padre Rolim e com o Coronel Joaquim Silvério dos Reis, e juntos elaboraram os primeiros planos da revolta contra Portugal. Terminada sua licença Militar, Tiradentes, em Agosto de 1788, volta a Minas comandando a escolta da mulher do Visconde de Barbacena, novo Governador de Minas.
Em Vila Rica se tornou o principal articulador da conspiração para a libertação do país. Organizou um grupo do qual faziam parte pessoas de grande - projeção na capitania. Era ao mesmo tempo, um idealista e um espírito prático. Não hesitava em fantasiar os fatos para atingir seus objetivos. Inventou, por exemplo, que o novo governador trazia instruções para que - as fortunas particulares em Minas, não ultrapassassem dez mil cruzados. Garantiu a todos o apoio de potências estrangeiras à conjuração.

Em fins de 1788, aconteceu a primeira reunião dos conspiradores na casa do Tenente-Coronel Paula Freire. A ele se unira o Padre Carlos Correia de Toledo, vigário de São João Del Rei, homem rico e influente, e a conspiração foi crescendo com a participação do Cônego Luiz Vieira da Silva, do Padre Rolim, Tomás Antonio Gonzaga, Cláudio Manoel da Costa, Alvarenga Peixoto e outros que no decorrer do tempo se juntaram aos primeiros.

A INICIAÇÃO DE TIRADENTES

Naquela época a Maçonaria permitia que se fizessem iniciações fora dos templos e às vezes por um Irmão com autoridade, o que era denominado de: Iniciação por Comunicação. E assim José Álvares Maciel iniciou Joaquim Jose da Silva Xavier, sendo que este tipo de iniciação foi suprimido em 1907, com a promulgação da constituição.

Lauro Sodré. O Coronel Francisco de Paula Freire, não gostava do Alferes Tiradentes, com o qual mantinha fria distância. Esse tratamento mudou completamente quando Tiradentes de volta do Rio de Janeiro, participou-lhe que havia si do iniciado nos mistérios da Maçonaria.

Ir.’. Jair de Almeida Gomes



Não se pode negar que a nossa independência teve a sua origem no movimento iniciado no arraial do Tijuco - hoje Diamantina - que rapidamente se ramificou em todo território brasileiro. Posteriormente alcançou seu ponto alto de realização em Vila Rica - hoje Ouro Preto - que na época era a sede da Capitania de Minas Gerais.

A Inconfidência Mineira à qual só foi dada importância quando descoberta foi, sem nenhuma dúvida, o movimento libertador do Brasil e ‘desopressor’ mineiros tão explorados e extorquidos pelos portugueses. Foi um movimento com idéias importadas da França, onde alguns jovens brasileiros completavam seus estudos, principalmente na universidade de Montpellier, onde tinham o primeiro contato com a Maçonaria. Nas centenas de Lojas em território francês, era pregado a Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Nessas Lojas planejou-se a Revolução Francesa e discutiu-se amplamente a libertação dos mineiros e do Brasil. Tenónio D'Albuquerque, historiador mineiro, em uma das suas obras, menciona: "Não é apenas infantilidade e sim estultice, e sim obstinação ocorrente de fanatismo, negar-se a reconhecer na INCONFIDÊNCIA MINEIRA, um empreendimento maçônico. É bastante atentar-se na sua bandeira, nos seus objetivos: LIBERDADE, IGUALDADE, pela educação do homem com a criação de sua universidade, e fraternidade pela união dos brasileiros em termos de um ideal supremo: a constituição de uma pátria livre." E, na formação desse movimento é imprescindível citar a liderança de maçons, tais como: Álvares Maciel, Domingos Vidal Barbosa, José Joaquim da Maia,e outros mais, que se iniciaram na maçonaria, na Europa. José Álvares Maciel, Maçom iniciado na Europa, é considerado por todos os estudiosos o intelectual da Inconfidência Mineira. Álvares Maciel.

Álvares Maciel, nascido em VILA RICA, filho do guarda - mór da sede da capitania de Minas Gerais e de mãe mineira nascida em MARIANA, cursou a universidade de Montpellier então poderoso centro da irradiação da MAÇONARIA, onde deve ter ingressado na ordem maçônica a menos que já houvesse assim procedido em Coimbra, como ocorrera com outros estudantes brasileiros. Homem culto e idealista aceitou e cultivou imediatamente o princípio de Liberdade, Igualdade e Fraternidade da Maçonaria. Desde lá pensava ele na emancipação da sua pátria distante onde não havia Liberdade e predominava a escravidão e a exploração pelos portugueses contra o preceito de Liberdade, bem como na existência de justiça e onde a FRATERNIDADE não era praticada, haja visto os suplícios impostos aos brasileiros. Com o desejo de ver a pátria livre, retorna Álvares Maciel ao Brasil, após empreender longas viagens e vários contatos com outros maçons como o venezuelano Francisco Miranda, maçom exemplar que havia contribuído com a independência de países latino-americanos, através da Loja Grande Reunião americana, por ele fundada em Londres.

E escreve historiador JOAQUIM NORBERTO na sua obra: "História da Conjuração Mineira" - volume 1 - Página 81: " Vinha o jovem Maciel de países livres, onde adquiria instrução e onde fora iniciado nos mistérios da MAÇONARIA". Após seu regresso, juntamente com estudantes brasileiros que também retornavam, empolgados pela ação humanitária e fraternal desenvolvida pela MAÇONARIA na Europa, no sentido de assegurar os direitos que dignificam o homem e na defesa da liberdade dos povos, cresce e se fortifica o movimento que mais tarde levou o nome de INCONFIDÊNCIA MINEIRA. No retorno de ÁLVARES MACIEL ao Brasil, ocorreu para a felicidade e consumação do sonho de LIBERDADE o "encontro da intelectualidade com a bravura" - os ideais do homem culto e idealista com o caráter forte e exaltado do miliciano que conhecia o verdadeiro significado da palavra Liberdade e converteu-se num seu soldado fervoroso - o alferes JOAQUIM José da Silva Xavier - O TIRADENTES.

Já que seus ideais eram idênticos, - um Brasil livre da escravidão, governado pelo seu próprio povo que faria suas próprias leis - estava concluída a principal fase da Inconfidência, conforme afirma o historiador Gustavo Barroso: "no Rio de Janeiro, TIRADENTES pusera-se em contato com um moço mineiro que regressava formado da Europa, o Dr. José Álvares Maciel, o qual segundo o depoimento de Domingos Vidal, estivera na Inglaterra, buscando apoio para o levante de Minas gerais."

A partir daí, novos adeptos foram surgindo e as suas idéias foram disseminadas nas sedes das principais Capitanias. Paralelamente aos acontecimentos que se desenvolviam no âmbito secreto das "sociedades" criadas por Álvares Maciel, caminhava Joaquim José da Silva Xavier - Tiradentes, com sua pregação cívica em prol da Liberdade. Homem simples, em comparação com aqueles que tiveram a oportunidade de estender seus conhecimentos nas universidades da Europa, nascido numa fazenda de Pombal entre São José (hoje Tiradentes) e São João Del Rei, Minas Gerais. O jovem Tiradentes não fez estudos regulares, aprendendo as primeiras letras com seu irmão Domingos. Órfão aos 11 anos, ganhou o mundo: foi mascate, minerador e dentista prático, Aliás, sua alcunha adveio na habilidade com que manejava o boticão e como diz um historiador, que o fazia "com a mais sutil ligeireza e ornava a boca de novos dentes, feitos por ele mesmo, que pareciam naturais". Daí a sua popularidade que se estendeu até o Rio de Janeiro.

Sim, nenhuma dúvida pode restar, de que as sociedades secretas das quais participava Joaquim José da Silva Xavier, nada mais eram que a maçonaria. Portanto, Tiradentes havia ingressado nos mistérios da maçonaria e conseqüentemente era Maçom. Aliás, vale a pena citar a esse respeito o que disse o historiador Joaquim Norberto em sua obra "História da Conjuração Mineira" - Tomo l - Página 96: "No dia 28 de agosto de 1.788 apresentou-se o alferes Joaquim José da Silva Xavier ao comandante do seu regimento, para dar parte de doente, pois com efeito chegara enfermo a Vila Rica. Reteve-o a sua enfermidade em casa pelo espaço de três meses, suspenderam-lhe o soldo e teve ele que recorrer ao empenho da amizade que contraíra na cidade do Rio de Janeiro com o Dr. José Álvares Maciel. Era este jovem parente do tenente-coronel de seu regimento - Francisco de Paula Freire de Andrade e foi fácil obter o que desejava o pobre alferes. Renovou Tiradentes a prática que tivera com o Dr. Álvares Maciel na cidade do Rio de janeiro e conseguiu ser, por intermédio da sua pessoa, iniciada nos mistérios da conjuração, que desde muito tempo se tramava em Vila Rica". Segundo alguns renomados historiadores, dentre os quais Tenório D'Albuquerque, possivelmente Tiradentes ingressara na maçonaria através de José Álvares Maciel, outros, contudo, admitem que José Joaquim da Silva Xavier, quando mascate se fez maçom na Bahia, numa das suas muitas viagens àquela localidade.

Tudo faz crer que tenha sido iniciado em Minas, isso não é relevante, Bahia, Rio de Janeiro ou em Minas Gerais, não importa. O que importa, neste momento é afirmar que Tiradentes foi maçon convicto e entusiasta, o que demonstrou nas suas andanças e na pregação das doutrinas maçônicas que se identificam com a Liberdade. É de se louvar o comportamento e o trabalho do destemido Maçom Tiradentes, arriscando a vida com sua pregação de Liberdade. Participou de várias Lojas Maçônicas em Minas Gerais, com o apoio resoluto da maioria das populações, que viam na maçonaria, intransigente defensora da Liberdade, da dignidade, dos direitos do homem, um meio para reagir contra os desmandos dos prepotentes e contra as arbitrariedades daqueles que desonravam o poder. O fracasso do movimento Inconfidência Mineira, que tinha como principal objetivo gerado pelo descontentamento e pela forma abusiva com que Portugal explorava as minas da capitania, bem como a delação pelo traidor Joaquim Silvério dos Reis, é por todos conhecido através da história.

Nêodo Ambrósio de Castro,

M.'.M.'. - ARLS Benso di Cavour nº 28, Juiz de Fora - MG / Brasil



Fato pouco mencionado nisso tudo é sobre a personagem desconhecida: o Embuçado. Foi uma pessoa que, quando Barbacena descobriu o golpe, saiu, na calada da noite, envolto num balandrau negro com capuz que lhe cobria o rosto, batendo de porta em porta ou nas janelas de casas dos membros do movimento avisando aos inconfidentes para que fugissem, pois o plano havia sido descoberto. Nunca se soube quem era o Embuçado. Atitude puramente de Maçom, pois, ao bater nas portas e nas janelas empregava um sinal convencionado para depois dar a senha secreta pré-estabelecida, provavelmente, na Loja Maçônica. (Alguns pesquisadores afirmam ser “UAI”, a palavra secreta, que era as inicias de União, Amor e Independência; posteriormente, “UAI”, acabou virando expressão entre o povo das Alterosas.) Vários inconfidentes conseguiram escapar, mas Barbacena sabia muito bem como encontrá-los, com a ajuda dos traidores.



Outro indício, nos interrogatórios, que faz pensar que Tiradentes era Maçom, ao ser perguntado sobre o significado do triângulo na bandeira dos inconfidentes, ele respondeu “Sagrada Trindade” e não “Santíssima Trindade”, detalhe que, supostamente, passou despercebido pelo escrivão.

Há, entre os pesquisadores e historiadores, um consenso muito forte da participação da Maçonaria na Conspiração Mineira e muitos que discordam dessa ingerência. As hipóteses vão desde o papel central na elaboração dos planos até a negação de sua influência na conjuração. Os que defendem que houve participação da Sublime Ordem, ressaltam que percebe-se o seu papel é percebido como importante elemento de ligação e comunicação dos inconfidentes com grupos de apoio do Rio de Janeiro e Europa. Em contraponto, os que não acreditam, lembram que nos atos da devassa não há nenhum vestígio de ação, propriamente, Maçônica. Considerando o modus operandi da Sublime Ordem, das operações serem feitas em segredo, compreende-se.

Mais uma conotação Maçônica, com o movimento, está na Sociedade Literária do Rio de Janeiro, entidade fundada pelo poeta Manuel Inácio da Silva Alvarenga, na última década do século XVIII, com estatutos oficiais aprovados pelo Vice-Rei. Posteriormente, nos papéis seqüestrados, ao Poeta Manuel Alvarenga, havia um rascunho de estatutos em que num dos itens exigiam-se “a boa fé e jurando absoluto segredo de modo que ninguém saiba do que se trata na Sociedade”. Tal documento foi interpretado como indício Maçônico. Nas atas, das sessões secretas, havia registros de que se lia com entusiasmo, livros e gazetas francesas que citavam a Sublime Ordem. Havia manuscritos, para colocação em vários pontos da cidade, nos quais se denunciava com veemência o despotismo de Portugal e se exaltava a França e a Liberdade. E não os atemoriza o malogro de outros movimentos. Com tudo isso vindo à tona, D. Maria I foi inexorável: Negou todos os pedidos de comutações de pena. Proclamou a sentença, como exemplo, para que ninguém mais ousasse afrontar o governo português.

Há estudiosos Maçons que lembram que era uso em voga, naquela época, de se conceder o título de Maçom por comunicação com aval de uma Loja francesa. Não seria impossível, portanto, que Tiradentes tivesse recebido tal concessão, através de seus companheiros iniciados na França. Infelizmente, nunca foi encontrado esse possível registro. Assim como Abraham Lincoln foi eleito Maçom, sem ter sido, Tiradentes é assim considerado, pelos Maçons, face à sua figura ímpar e impoluta que ele foi e merece o heroísmo a ele atribuído! Por analogia, do que está inserido na bandeira de Minas Gerais, é possível inferir TIRADENTES, MAÇOM, AINDA QUE TARDIO.....

Não é possível precisar a data da fundação de Paraty. Todavia, ao findar o século XVI já havia um pequeno núcleo, criado pelos paulistas de São Vicente, em uma elevação perto da Praia do Pontal.

Particularmente interessa, para os maçons, as esquinas da Rua do Comércio com a Rua da Cadeia e na Rua Dona Geralda com a Rua da Ferraria, um detalhe formado por três cunhais de pedra, formando um triângulo imaginário, demonstrando a presença da Maçonaria na cidade, estabelecida em 1823.

Fundada a Loja de Paraty, conhecida até hoje com o nome, supostamente o mesmo, de União e Beleza, logo destacou-se politicamente e ainda deixou marcas de sua influência na decoração geométrica, presente nos cunhais e sob as cimalhas de várias fachadas, como nos dois sobrados entre a Rua da Praia e Ferraria e nos três sobrados da Rua Dona Geralda, em frente à Praça da Matriz, esquina com a Rua da Capela.

No Sobrado da Prefeitura podemos constatar que o segundo andar foi construído posteriormente em função do estilo do primeiro pavimento com as típicas portas comerciais e verga curva em cantaria, destoando do sobrado com uma sacada de ferro e janelas em verga reta com vidros decorados.

A influência maçônica, caso se deseje interpretá-la, está presente na base de cantaria do cunhal que, provavelmente, formava, no passado, com o das outras esquinas mencionadas, um triângulo imaginário. Objetivamente, entretanto, encontramos no segundo andar dois sofás de palhinha que pertenceram à Loja original de Paraty, com os encostos em marroquim vermelho, dentro de triângulos encimados por uma estrela.

Torna-se oportuno esclarecer que mais uma vez foi levantada a hipótese do Tiradentes maçom (sic), desta vez "iniciado" em Paraty, quando de suas viagens ao Rio de Janeiro. Acontece que, como vimos, a Loja Maçônica de Paraty só foi fundada em 1823, 31 anos depois da morte do Alferes.

Admitindo-se um núcleo maçônico, totalmente improvável em função da rigorosa repressão das tropas portuguesas, Tiradentes não tinha porque utilizar a trilha dos guaianás porque, quando nasceu, em 1748, o caminho das Minas Gerais para o Rio de Janeiro já era feito através do vale do Paraíba.

Mais grave ainda se torna este equivocado entendimento, quando verificamos que é apenas em 1762 que Joaquim José começa a trabalhar como muleteiro, para em 1767 dedicar-se ao comércio, dois anos antes de ingressar no serviço militar, na unidade dos dragões de Vila Rica.

A Maçonaria não houve na Conjuração Mineira, conforme procuramos provar no nosso livro em co - autoria com José Castellani ("A Conjuração Mineira e a Maçonaria Que Não Houve", São Paulo, Editora Gazeta Maçônica, 1992), o movimento não foi maçônico, nem poderia ser em função de não existir Lojas à época. Tiradentes jamais foi iniciado, sob qualquer circunstância, na Instituição, muito menos em Paraty.

Insisto: a Maçonaria brasileira não precisa iniciar Tiradentes; basta aceitar o mito, criado pelos republicanos, que deslumbrou e continuará a deslumbrar o espírito libertário da nação brasileira.

Frederico Guilherme Costa



Com efeito, o escritor francês Joseph Marie Rouget foi o autor de um estudo sobre a existência de lojas maçônicas em Montpellier e o resultado foi consignado no livro “ Montpellier et la Franc-Maçonnerie- sés loges” , apontando “ 11 lojas maçônicas, sendo 4 das quais constituídas com elementos da faculdade de medicina, inclusive professores” – citado por A . Tenório de Albuquerque , in “ A Maçonaria e a Grandeza do Brasil - p. 139.

Já Pedro Calmon, na sua História Social do Brasil, v. III- p. 59, afirma a ocorrência de: “ Conluios maçônicos, transportados também para o Brasil pelos estudantes de Coimbra, ao regressarem formados”.

Destarte, não é de se admirar que “O Leão do Norte” sofresse a influência da Revolução Francesa, fruto do iluminismo. Tampouco poderiam Pernambuco e Minas Gerais ficar alheios à Guerra pela Independência dos Estados Unidos da América, quando essa valorosa colônia desafiou e venceu a maior potência militar da época – A Inglaterra – saindo vitoriosa na luta desigual levada a bom êxito pelos maçons norte-americanos George Washington, Thomas Jefferson, Benjamin Franklin, entre outros.

Por isso, a exemplo do Areópago de Itambé, cuja existência é motivo de dúvida se prevalecer o argumento esposado pelo respeitado historiador supra referido de que não encontrou, em “nenhum documento”, a prova da existência do Areópago; e “nem mesmo nos próprios escritos, Manuel Arruda disto dava qualquer notícia”, a Inconfidência Mineira padece do mesmo mal: Falta de Documento.

Respeito imensamente esses historiadores. Porém, como já dissemos antes, a atuação da Maçonaria, quando direcionada à libertação de um povo ou à implantação de um novo regime político, não pode obedecer a métodos históricos de pesquisas normalmente utilizados para se chegar a sua comprovação.

É que uma Loja Maçônica ou qualquer Associação de influência Maçônica não poderia – repetimos mais uma vez – deixar escrito em ata ou em outros documentos os planos dos Irmãos para fazer república em um regime monárquico ou pugnar pelo retorno da democracia num regime ditatorial. Seria fatal para os Irmãos o insucesso da empreitada.

No caso da Inconfidência Mineira, a incredulidade em relação à participação de maçons nessa insurreição lembra em tudo o problema do Areópago de Itambé: A falta dos benditos documentos.

Seria muito bom para a História Pátria se Tiradentes tivesse deixado sobre a revolta que iria ocorrer, várias atas das sessões maçônicas na Loja do Tijuco, ordenando ao Secretário: “ Meu Irmão, consigne na ata o nosso plano de iniciar o movimento republicano no dia em que o Visconde de Barbacena iniciar a Derrama”... todos os irmãos assinariam a ata, deixando seus nomes para facilitar o trabalho dos historiadores e, caso o movimento fracassasse, a justiça da Rainha não teria o menor trabalho jurídico na instauração do processo, pois todos seriam réus confessos.

Lendo a revista maçônica “ A Trolha” nº 227 de setembro de 2005, vimos a declaração de um Irmão maçom( consignada em um artigo intitulado “E a verdade, onde fica?” , no qual ele diz: “ O que não aceitamos, até prova em contrário, é a afirmação de que Tiradentes e os inconfidentes todos eram maçons” . E depois conclui:

“Aqueles que assim se expressam, baseiam-se no que escreveu Joaquim Felício dos Santos, no livro ”Memórias do Distrito Diamantino”, publicado nos fins do século XIX, onde se lê que “ a Conjuração Mineira foi movimento maçônico, sob a liderança do Maçom Tiradentes”

Esse Irmão manifesta ainda sua incredulidade se as academias fundadas no Brasil no século XVIII eram Maçônicas e, muito compreensivelmente, vem dizer “ não se encontra escrito em lugar algum” a organização de sociedades maçônicas em Minas, Rio e São Paulo.

O Irmão tem todo o direito de não aceitar Tiradentes como sendo maçom, ou não concordar que as academias eram lojas maçônicas, mas nós também temos o direito de aceitar ambos os fatos negados pelo articulista, recepcionando a tese de que, pela circunstância extremamente perigosa que envolveu a Conjuração Mineira, era recomendado o sigilo e a oralidade das reuniões feitas nas “associações secretas” pelos irmãos que delas participavam.

Joaquim Felício dos Santos nasceu em 1 de fevereiro de 1828 e em 1850 já era bacharel em ciências jurídicas pela Faculdade de Direito de São Paulo, contando apenas vinte e dois anos de idade. Dedica-se com afinco à advocacia e logo adquire “notoriedade como reputado causídico”. Torna-se também professor de História, Geografia, Francês e Matemática no Ateneu de São Vicente e no Seminário Episcopal.

Pelos dados acima, temos que o Dr. Joaquim Felício dos Santos é um homem sério, estudioso e que gozava de grande reputação entre os seus. Ressalte-se ainda que ao escrever o livro sob comento, contava com a idade de 34 anos e com grande experiência de vida, não só por ser advogado como também pela cátedra exercida nas Instituições de ensino.

Pois bem, Joaquim Felício dos Santos, declara no seu livro que Tiradentes era maçom e fundou uma associação no Tijuco.

Tal declaração é feita como se fosse o fato mais natural do mundo, sem maiores explicações ou detalhes, o que vem corroborar nossa afirmativa acerca dos fatos públicos e notórios, pois Joaquim Felício entrevistou pessoas que TESTEMUNHARAM os acontecimentos conhecidos como Insurreição ou Inconfidência Mineira, chegando a identificar dois dos seus informantes,“ o Tenente Joaquim de Souza Matos, oficial das antigas milícias e Aninha Bugre, que freqüentava o lar do Intendente Câmara”-p. 23-. Daí porque, de modo quase apenas casual, faz tal declaração, hoje considerada bombástica e sem provas!

Eis a declaração referida: “Os conciliábulos faziam-se alta noite em casa de José da Silva e Oliveira, pai do Padre Rolim; a eles concorriam as principais pessoas do Tijuco, e diz-se que até o Intendente Beltrão se envolvera na conjuração; mas guardava-se o maior segredo sobre suas deliberações e nome dos comprometidos. Os conjurados eram todos iniciados na maçonaria, introduzida por Tiradentes, quando por aqui passou vindo da Bahia para Vila Rica”.- Livro citado, p. 221-

Joaquim Felício dos Santos justifica não se aprofundar no assunto Maçonaria/Tiradentes/Insurreição, porque: “ Não há mineiro que ignore a história da nossa gloriosa tentativa de independência de 1789; por isso, e por não pertencer ao quadro desta narração, dispensamo-nos de narra-la”- idem-p. 221-.

Realmente, Joaquim Felício como mineiro, advogado, jurista (escreveu os “Apontamentos para o Projeto do Código Civil Brasileiro”), professor de História e senador constituinte eleito em 1890 por Minas Gerais, bem sabia o que estava falando: Tratava-se de um fato público e notório, e por isso, consignou no seu livro o fato que todo mineiro sabia.

Afinal, este é um princípio milenar e como tal foi até oficializado pelo direito adjetivo brasileiro, pois como bem diz o nosso Código de Processo civil em seu art. 334, I “Não dependem de prova os fatos Inotórios”.

Destarte, não há porque duvidar da seriedade e da honestidade do autor do livro “Memórias do Distrito Diamantino”, considerado por Silvio Romero, “que sempre foi severo e rigoroso na análise dos historiógrafos do século XIX e coloca Joaquim Felício dos Santos numa posição de inegável prestígio” - opus cit. p. 14.

O maçom pernambucano, escritor e pesquisador Edival Gomes da Costa, na monografia intitulada “A Inconfidência Mineira, Que Houve?“, traz em supedâneo dos argumentos favoráveis a Tiradentes ser maçom, algumas referências de Historiadores, três das quais citamos abaixo:

Mário Veiga Cabral, que na obra “História do Brasil”, p. 179, diz: “retirou-se Tiradentes, satisfeitíssimo, não por saber que seu comandante tomava parte no movimento, mas por lhe ter ele dado a conhecer que estava iniciado no misterioso trama”.

Gustavo Barroso, na “História Secreta do Brasil”, vol. I, p. 153: “Quando Tiradentes foi removido da Bahia, trazia instruções secretas da maçonaria para os patriotas de Minas”.

Esse texto provoca a seguinte indagação do escritor Edival: “Será que a maçonaria seria tão ingênua que, numa época de tamanhas perseguições, mandaria instruções secretas para os IIr.’., por um profano?

Outros escritores também se manifestaram sobre o tema: Augusto de Lima Júnior, em “História da Independência de Minas Gerais”, p. 106, destaca: “Iniciado na maçonaria, Tiradentes tomava parte nas reuniões desta, no Rio de Janeiro e pregava as suas doutrinas onde quer que se encontrasse”.

Rocha Pombo, Eminente historiador, descreve como se comportavam os Inconfidentes e, nessa descrição, vemos claramente sinais maçônicos: “Não se poderia dizer a qual daquelas figuras se deve atribuir a iniciativa, o primeiro impulso de que dependeu o concerto decisivo, a coragem resoluta, a ufania quase desapercebida com que se apaixonam pelo risonho ideal, comunicando-se por símbolos, entendendo-se por gestos, anunciando-se por senhas”. – obra referida, p. 213.

Ora, qual Instituição do mundo é conhecida pela prática, no seu dia a dia, de “símbolos”, “gestos” e “ senhas” senão a maçonaria? Qual Instituição no mundo tem - por tradição – caráter secreto quanto ao rito e quanto às iniciações que faz? E qual a Instituição que tem o objetivo declarado de promover a Liberdade, a Fraternidade e a Igualdade entre os povos? A resposta é uma apenas: A Maçonaria!

Por todo o exposto, entendo que a História da Luta Libertária desenvolvida pela Maçonaria nos séculos XVIII XIX não pode ser escrita com às mesmas tintas da História profana, justamente pelo envolvimento dos maçons com as grandes causas libertárias, numa Europa monarquista com suas colônias mantidas sob o jugo da opressão e ganância a justificar plenamente os “conluios secretos” dos pedreiros livres”.

Assim, reafirmando meu total respeito às opiniões contrárias, perfilho-me entre os que aceitam o fato da maçonaria ter estado presente na Inconfidência Mineira e em tantas outras lutas pela liberdade dos povos e das nações, e encerro o presente estudo esperando ter contribuído minimamente, se não para dirimir, pelo menos para apresentar outros argumentos acerca de Tiradentes ter sido maçom.

Para último, quero deixar registrado o comportamento de Joaquim José da Silva Xavier durante todo o julgamento a que foi submetido juntamente com os outros “Inconfidentes”, explicando que assim o faço para impugnar certos escritos que pretendem manchar a honra de Tiradentes, atribuindo-lhe um comportamento vil e covarde quando teve de responder às perguntas que lhe eram feitas pelos inquisidores:

Tiradentes, ao ser preso, fez o que todos os outros fizeram: Negou tudo! Porém, à medida que os acusadores demonstravam ter perfeito conhecimento do plano, da insurreição que estava se formando e ia ser deflagrada quando da “ derrama”, ele passou a admitir sua participação e além de assumir toda a responsabilidade, ele, dentre os maçons que participaram da conspiração, foi o único que sustentou com coragem e determinação os ensinamentos maçônicos, em oposição ao desespero(compreensível) dos outros Inconfidentes. Durante a longa "Devassa", que era o processo judicial, os conspiradores ora lamentavam-se; ora acusam uns aos outros. Cláudio Manoel da Costa foi encontrado morto em sua cela de prisão. Assassinado – dizem uns. Suicídio – afirmam outros. Talvez a hipótese do suicídio esteja mais correta, pois o desânimo e a depressão apoderaram-se da alma dos Inconfidentes. Mas, Tiradentes foi, repito, o único que não esmoreceu, que não teve medo e que não se arrependeu do que tinha feito, passou para a história como o herói que sonhou tornar o Brasil livre. Suas palavras, ao tomar conhecimento da sentença de morte pronunciada contra os "Irmãos Maçons", chegaram até nós como exemplos de firmeza de caráter, coragem e extrema generosidade, pois enquanto os outros lamentavam, ele, grandioso e coerente, dizia ao Frei Raimundo de Penaforte: "Dez vidas eu daria, se as tivesse, para salvar a deles!" Tais palavras que se revelaram proféticas (pois no dia seguinte os demais acusados tiveram suas penas comutadas em degredo) impressionaram tanto o bom Frei Penaforte que ele se encarregou de divulgá-las para às páginas da nossa História!

Porém, o depoimento mais conclusivo sobre a coragem e a honradez de Tiradentes é dado por um inglês, Kenneth Maxwell, que pesquisou o episódio da Inconfidência Mineira para um trabalho(ou tese de doutorado) patrocinado por várias Instituições norte-americanas, notadamente a Princenton Regional Studies Fellowship e a Ford Regional Studies. Com o dinheiro do patrocínio e tempo disponível, Kenneth Maxwell consultou os arquivos existentes aonde quer que se encontrassem. Leu nos autos da Devassa os depoimentos dos envolvidos. Acompanhou os relatórios dos juízes e autoridades policiais e, apesar de não ter ficado convencido do envolvimento dos maçons e da maçonaria na Insurreição (a falta de documentos...), consignou na página 222 do seu livro “A Devassa da Devassa”, sua opinião sobre Tiradentes:

“A tranqüila dignidade com que Tiradentes enfrentou a morte foi um dos poucos momentos heróicos do fracasso sombrio. Quase um século depois, quando o Brasil implantou a república, ele foi proclamado herói nacional. E esta condição de herói nacional do alferes dos Dragões de Minas não é injustificada; em comparação com o de seus companheiros de conspiração, o comportamento de Tiradentes, ao ser interrogado, foi exemplar, ninguém o sobrepujou em entusiasmo por uma Minas independente, livre e republicana; reclamou para si o maior risco e não há dúvida alguma de que estava disposto a assumi-lo. Conforme dizem ter Cláudio Manoel da Costa afirmado, tomara que existissem mais homens desta têmpera! Tiradentes não era um anjo, nenhum homem o é. Mas, em uma história particularmente carente de grandes homens, Joaquim José da Silva Xavier impõe-se como uma exceção”.

Deixo-os meditando nessas palavras ditas por um estrangeiro que realmente vasculhou os documentos arquivados em 14 Instituições localizadas no Brasil, Portugal, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos da América, realizando o que ele mesmo chamou de “A Devassa da Devassa” e concluiu pelo heroísmo e pela dignidade de Tiradentes.

Por José Wilson Vilar Sampaio Jr.

Da Academia Maçônica de Letras de Olinda-PE

“Pois seja feita a vontade de Deus! Mil vidas eu tivesse, mil vidas eu daria pela libertação da minha Pátria!”

SALVE TIRADENTES!


Texto publicado na Rede Social Maçon On Line

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